Abordagem emergencial com protocolo
ABCDE do trauma em sagui-do-cerrado
(Mico melanurus) de vida livre:
relato de caso.
1Alison Henrique Ferreira,2Carlos Henrique da Silva Souza Barbosa,3Brenda Madruga Rosa ,4Osvaldo Lírio Corrêa 1VOLUNTÁRIO DE EXTENSÃO,2VOLUNTÁRIO DE EXTENSÃO,3OUTROS,4OUTROS alisonferreira08@gmail.com
RESUMO
Na rotina de um médico
veterinário é imprescindível a utilização de protocolos como o ABCDE do trauma
em atendimentos emergenciais. O objetivo do presente relato é descrever a
conduta emergencial utilizada em um primata de vida livre resgatado pela polícia
ambiental no Parque Mãe Bonifácia em Cuiabá-MT. Foi atendido no Setor de Animais Silvestres do Hospital
Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, um representante da família dos Calitriquídeos, conhecido
popularmente como sagui-do-cerrado, de vida livre, da espécie Mico melanurus, juvenil, macho, pesando
0,161kg, com relato de ter sido encontrado no chão, sem histórico anterior.
Para realização do exame físico foi utilizada a contenção física e o protocolo
ABCDE do trauma como abordagem primária, iniciou-se pela letra A, do inglês
“Airway” prezando-se pela avaliação das vias aéreas, que estavam desobstruídas
e sem alterações, bem como a letra B “Breathing” que se trata do âmbito
respiratório do animal e também não apresentavam alterações. Já a letra C
“Circulation” relacionado a possíveis problemas circulatórios, notava-se bradicardia e desidratação. A letra D
“Disability” diz respeito à avaliação da deambulação, como o nível de
consciência e nutrição, o animal atendido mostrava-se não responsivo a
estímulos ambientais, apático e com um quadro de hipoglicemia (42 mg/dL). Por fim a letra E “Exposure” relacionada a exposição e
controle de temperatura, o sagui apresentava ausência de sinais de trauma e uma
temperatura incapaz de ser aferida em termômetro convencional, sendo abaixo de
24ºC, o que indica hipotermia grave. Após isso, foram identificadas mucosas hipocoradas e escore corporal 2,5 (na escala de 1 a
5). Com isso, como os mamíferos são endotérmicos e utilizam do calor
metabólico para manter a temperatura corporal estável, a manobra de
reaquecimento torna-se primordial. Assim, para a estabilização do animal foram
utilizados artefatos para aumentar a temperatura
corporal, como o uso de papel alumínio em extremidades, como membros e cauda,
tapete e bolsas térmicas, cobertores e secador de cabelo com o ar aquecido.
Ainda que, em temperaturas muito baixas, foca-se na técnica de aquecimento
central, contudo se as extremidades forem aquecidas antes, pode-se causar uma
série de complicações como hipotensão, edema pulmonar, arritmia, coma e até
parada cardiorrespiratória. Vale ressaltar que não foi realizado o acesso intravenoso,
por conta da desidratação e vasoconstrição, além do pequeno porte do animal que
impossibilitou a cateterização. Junto a isso, como intervenção à
bradicardia e à baixa glicemia, foram administrados atropina (0,05 mg/kg) via
intramuscular e glicose 50% (2mg/kg) via oral. Com isso, o animal foi
monitorado em terapia intensiva e mostrou uma rápida
melhora, já que 30 minutos após a intervenção o mesmo alimentou-se
espontaneamente, após 1h30 houve aumento da temperatura para 26,5ºC e da
glicemia para 242 mg/dL, já 8 horas após a chegada a temperatura estava em
36,2ºC, considerado dentro do esperado para a espécie. O animal permaneceu
internado e recebeu alta hospitalar após 11 dias. Dessa forma, a conduta escolhida, baseada na literatura,
denotou recuperação satisfatória devido a rápida ação no atendimento e
estabilização, demonstrando a importância do rápido atendimento em casos
emergenciais.