Universidade Federal de Mato Grosso
#fazendoadiferenca
Ano: 2023 Edição: 14 ISSN: 2594-5106

Abordagem emergencial com protocolo ABCDE do trauma em sagui-do-cerrado (Mico melanurus) de vida livre: relato de caso.

1Alison Henrique Ferreira,2Carlos Henrique da Silva Souza Barbosa,3Brenda Madruga Rosa ,4Osvaldo Lírio Corrêa
1VOLUNTÁRIO DE EXTENSÃO,2VOLUNTÁRIO DE EXTENSÃO,3OUTROS,4OUTROS
alisonferreira08@gmail.com

RESUMO

Na rotina de um médico veterinário é imprescindível a utilização de protocolos como o ABCDE do trauma em atendimentos emergenciais. O objetivo do presente relato é descrever a conduta emergencial utilizada em um primata de vida livre resgatado pela polícia ambiental no Parque Mãe Bonifácia em Cuiabá-MT. Foi atendido no Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, um representante da família dos Calitriquídeos, conhecido popularmente como sagui-do-cerrado, de vida livre, da espécie Mico melanurus, juvenil, macho, pesando 0,161kg, com relato de ter sido encontrado no chão, sem histórico anterior. Para realização do exame físico foi utilizada a contenção física e o protocolo ABCDE do trauma como abordagem primária, iniciou-se pela letra A, do inglês “Airway” prezando-se pela avaliação das vias aéreas, que estavam desobstruídas e sem alterações, bem como a letra B “Breathing” que se trata do âmbito respiratório do animal e também não apresentavam alterações. Já a letra C “Circulation” relacionado a possíveis problemas circulatórios, notava-se bradicardia e desidratação. A letra D “Disability” diz respeito à avaliação da deambulação, como o nível de consciência e nutrição, o animal atendido mostrava-se não responsivo a estímulos ambientais, apático e com um quadro de hipoglicemia (42 mg/dL). Por fim a letra E “Exposure” relacionada a exposição e controle de temperatura, o sagui apresentava ausência de sinais de trauma e uma temperatura incapaz de ser aferida em termômetro convencional, sendo abaixo de 24ºC, o que indica hipotermia grave. Após isso, foram identificadas mucosas hipocoradas e escore corporal 2,5 (na escala de 1 a 5). Com isso, como os mamíferos são endotérmicos e utilizam do calor metabólico para manter a temperatura corporal estável, a manobra de reaquecimento torna-se primordial. Assim, para a estabilização do animal foram utilizados artefatos para aumentar a temperatura corporal, como o uso de papel alumínio em extremidades, como membros e cauda, tapete e bolsas térmicas, cobertores e secador de cabelo com o ar aquecido. Ainda que, em temperaturas muito baixas, foca-se na técnica de aquecimento central, contudo se as extremidades forem aquecidas antes, pode-se causar uma série de complicações como hipotensão, edema pulmonar, arritmia, coma e até parada cardiorrespiratória. Vale ressaltar que não foi realizado o acesso intravenoso, por conta da desidratação e vasoconstrição, além do pequeno porte do animal que impossibilitou a cateterização. Junto a isso, como intervenção à bradicardia e à baixa glicemia, foram administrados atropina (0,05 mg/kg) via intramuscular e glicose 50% (2mg/kg) via oral. Com isso, o animal foi monitorado em terapia intensiva e mostrou uma rápida melhora, já que 30 minutos após a intervenção o mesmo alimentou-se espontaneamente, após 1h30 houve aumento da temperatura para 26,5ºC e da glicemia para 242 mg/dL, já 8 horas após a chegada a temperatura estava em 36,2ºC, considerado dentro do esperado para a espécie. O animal permaneceu internado e recebeu alta hospitalar após 11 dias. Dessa forma, a conduta escolhida, baseada na literatura, denotou recuperação satisfatória devido a rápida ação no atendimento e estabilização, demonstrando a importância do rápido atendimento em casos emergenciais.

PALAVRAS-CHAVE

animal silvestre, calitriquídeos, conduta emergencial, hipotermia.