Universidade Federal de Mato Grosso

Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus: saltando os muros da subalternidade

1WESLEY HENRIQUE ALVES DA ROCHA,2JOSIELE CANDIDA DA CONCEIÇÃO NASCIMENTO,3MARINETE LUZIA FRANCISCA DE SOUZA
1MESTRANDO,2ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO,3ORIENTADOR
wesley020794@gmail.com

RESUMO

Esta pesquisa realiza uma análise da obra Diária de Bitita, da escritora afro-brasileira Carolina Maria de Jesus. A obra pertence ao gênero autobiográfico da literatura, nela a autora narra sua infância e parte da adolescência. Tivemos como finalidade verificar como a autora salta os muros da subalternidade, na contramão da homogeneidade branca, masculina e de classe média da literatura. Carolina rompe com as estruturas de dominação que alicerçam a sociedade brasileira, embora a elite não estivesse tão interessada em ouvi-la. Com base na hipótese de que as questões sociais (raça, classe e gênero), ou seja, o contexto histórico-político em que se passa a narrativa, desempenha certo papel na construção de Diário de Bitita, tornando-as intrínsecas à obra, procuramos apresentar as implicações de tais questões no processo de construção e recepção da obra pela sociedade "letrada". A análise parte da multidisciplinaridade, uma vez que, conforme Candido (2000), as diversas áreas do conhecimento complementam a análise e possibilitam um aprofundamento nas bases históricas, sociológicas e críticas da obra. Para isso, através de teóricos das ciências sociais e da crítica literária, evocamos as casas de Carolina, a diáspora (deslocamentos), raça, gênero e classe social como categorias analíticas que nos permitiram entrever como as relações sociais e as estruturas da sociedade influenciaram na construção da narrativa da autora. Assim, pudemos observar que, as questões sociais são de fato intrínsecas à obra. Carolina, desde a infância, identifica as estruturas racistas, machistas e as desigualdades que alicerçaram a construção da nação brasileira e, ao mesmo tempo, questiona e critica essas estruturas de dominação. A autora ousou saltar o muro da subalternidade que lhe foi imposto e ocupa o lugar de fala que, historicamente, lhe foi negado. Dessa forma, sua voz também representa as vozes das mulheres negras periféricas. A autora se autorrepresenta no mundo e, nesse processo, evoca as vozes das mulheres negras que tem tanto a dizer. Este exercício reflexivo multidisciplinar, proposto por Antonio Candido, nos permitiu um olhar mais completo para a obra e para os estudos das literaturas afro-brasileiras.

PALAVRAS-CHAVE

Carolina Maria de Jesus, literatura afro-brasileira, multidisciplinaridade, contexto histórico-político, estruturas de dominação.