Estigmas sociais ligados ao HIV no Jornal do Brasil em 1983 e 2019
1Lucas de Freitas Santos,2Deyvisson Pereira da Costa 1ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO,2ORIENTADOR lucas.dfs@uol.com.br
RESUMO
Nos anos 80, o mundo se
deparava com o vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV. No Brasil, o primeiro
caso foi descoberto em 1982 e noticiado pela primeira vez em junho de 1983 pelo
Jornal do Brasil do Rio de Janeiro (JB). Com o assunto em pauta, a mídia
brasileira muitas vezes disseminou informações contraditórias, decorrentes de
conhecimentos científicos incipientes sobre o vírus, que causaram terror social
sobre a doença. Entretanto, a cobertura jornalística sobre o tema modificou-se com o tempo. Neste sentido, analisa-se nove notícias
veiculadas pelo JB em 1983, ano em que o HIV foi divulgado pelo veículo carioca,
em comparação com outros nove textos de 2019 do mesmo jornal. A pesquisa busca
compreender o que resiste no JB da memória histórica-social de 1983, que
vinculava grupos marginalizados ao HIV, em especial os homossexuais. Com os
resultados, pretende-se descrever o cenário atual, identificando recorrências e
transformações no JB desde o aparecimento do vírus nas páginas noticiosas. Realiza-se
uma Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) no Jornal do Brasil, onde foram analisadas notícias de
1983 que abordavam o HIV e em seguida textos sobre o mesmo assunto publicados
em 2019. Para análise histórica-social foram levados em consideração três categorias:
I) relações entre HIV e homossexuais,
haitianos e/ou a promiscuidade; II) relações entre HIV e morte; e III) relações
entre HIV e problemas sociais. Diante disto foram observadas as seguintes
situações: I) em 1983, era recorrente o uso de adjetivos que ligavam o HIV aos
homossexuais, além de noticiarem o vírus como um castigo para pessoas com a
vida sexual considerada desviante e/ou intensa, já hoje é possível perceber que
estas associações diminuíram. II) Enquanto em 1983 os portadores do vírus eram
tratados como óbitos eminentes, enquanto em 2019 percebe-se que o JB entende os
soropositivos como pessoas que possuem qualidade de vida. III) Em 2019 o HIV
foi tratado como um problema social, enquanto nos anos 1980 isso era ignorado
quase que por completo. Com isso, é possível reconhecer que hoje o jornal
carioca demonstra compreensão mais ampla e respeito sobre o assunto, onde o JB
compreende as demandas sociais e os estigmas sobre o qual o HIV foi construído
socialmente. Esta abordagem adequada, que apresenta informações mais precisas sobre
o assunto, contribue na luta contra estigmas que ainda resistem.